
O clima de tensão acumulada durante o consulado pombalino, designadamente no último ano de vida do rei D. José I e as expectativas criadas nos primeiros tempos de governação da rainha D. Maria I, perpassam vividamente nas cartas de uma freira carmelita que no século se chamou Teresa de Melo. Proveniente de uma família de linhagem, Teresa foi antes de professar e de vir a ser escolhida para priorar o convento da Estrela dama da rainha D. Mariana de Borbón, onde acedeu à esfera íntima da princesa da Beira e do Brasil, herdeira do trono de Portugal, tendo a infância de ambas decorrido em conjunto.
A ascendência facultada por uma amizade desta envergadura acabaria por ser norteada no sentido da adopção pela nova rainha de uma doutrina reformadora do exercício do poder, consubstanciado nas revelações da madre Margarida Maria Alacoque, em torno do culto do Sagrado Coração de Jesus e da dua difusão, simbolizado no monumento levantado em sua honra, hose conhecido por basílica da Estrela. É a defesa deste programa ecuménico o tema principal destas cartas, escritas pela sua autora a D. Maria I, com início no período de tempo imediatamente anterior à sua subida ao trono.
O tema deste livro segue em linha com o pensamento milenarista em Joaquim de Fiore cujo veio português é recuperado no messianismo de Bandarra e do Quinto Império de Vieira. Embora não tenha sido explorada esta vertente de modo explícito, ela acaba por ser reconhecida pelo leitor, atento, das cartas setecentistas de Teresa de Melo (madre Teresa de Jesus da ordem Carmelita), depois priora do Convento da Estrela.
Trata-se de uma leitura inédita, na medida em que, não sendo estas cartas ignoradas dos historiadores, sobretudo dos que têm procurado achar nelas a influência de Teresa de Melo, no ânimo de D. Maria I, em particular, nas causas da morte do Príncipe D. José, torna-se aqui evidente o equívoco cronológico, em que assenta essa tese, além de outras matérias, que consubstanciam o conceito acima delineado.